O nosso amigo e colaborador Luís Monteiro escreveu hoje no SulInformação este excelente texto que transcrevemos com a devida vénia ao seu autor, focando um assunto que está a merecer a melhor atenção das entidades envolvidas neste processo e do qual se espera que haja uma resolução até ao final do ano..
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Depois de avanços e recuos, o Governo Regional da Madeira lançou finalmente, no passado dia 25 de Agosto, o concurso para a concessão de serviço público de transporte marítimo regular de passageiros e veículos através de navio ferry entre a Madeira e o Continente Português, que pressupõe uma ligação semanal com menos de 24h de duração.
Esta concessão será válida por 36 meses e, para concorrerem, os interessados dispõem de um prazo de 70 dias para apresentarem as suas propostas.
Mais do que uma questão de coesão territorial, esta é, sem dúvida, uma importante questão de desenvolvimento económico e de mobilidade entre uma região ultraperiférica e o continente.
As ilhas que formam o Arquipélago da Madeira constituem um dos raros casos na Europa em que não existe uma ligação marítima regular com o continente para passageiros e veículos, fazendo com que, quem viaja de e para a Madeira, tenha que recorrer apenas ao transporte aéreo.
Contudo, são bem conhecidos os constrangimentos que as condições meteorológicas adversas provocam regularmente nas ligações aéreas com a Madeira, com inúmeros voos a serem redirecionados, atrasos significativos nas partidas ou chegadas, e mesmo sujeitos a cancelamento.
Ainda recentemente, entre 4 e 7 de agosto, os ventos fortes que se fizeram sentir provocaram, segundo alguns meios da comunicação social, o cancelamento de 160 voos, afetando cerca de 22 mil passageiros.
Um transporte marítimo regular e semanal vem, assim, reforçar as ligações ao arquipélago e constituir-se, simultaneamente, como complementar e alternativa, quer ao transporte aéreo, quer ao transporte marítimo de contentores, permitindo que se atenue a insularidade e se promova o desenvolvimento e a qualidade de vida das populações, com redução dos custos dos produtos e dos tempos de trânsito de mercadorias.
Este concurso vem permitir que seja retomada a ligação marítima semanal que funcionou ininterruptamente entre Portimão-Funchal-Canárias, de junho de 2008 até final de 2011, e que foi assegurada pelo armador Naviera Armas.
Inicialmente, a companhia colocou ao serviço o ferry Volcan de Tijarafe, um navio com 143m de comprimento e capacidade para 1.000 passageiros, 1.500 metros lineares de carga rodada e 300 automóveis e, no verão de 2011, reforçou a ligação com o novo ferry Volcan de Tinamar, um navio de maior porte, com 175m de comprimento e capacidade para 1.500 passageiros, 1.850 metros lineares de carga rodada e 300 automóveis.
Durante este período, foram transportados mais de 95.000 passageiros e cerca de 51.000 veículos.
Recordo-me de ver motociclistas de clubes madeirenses a virem com as suas motos a concentrações no continente, empresas de rent-a-car que utilizavam a linha para aumentar ou reduzir as suas frotas automóveis na Madeira, os estudantes universitários que podiam, desta forma, levar os seus carros apinhados de material para as universidades no continente ou as empresas do Algarve a fornecerem diversos produtos e serviços (alumínios ou vidros, por exemplo) à construção na Madeira ou, simplesmente, os supermercados que recebiam produtos frescos praticamente de um dia para o outro.
O Algarve é, pois, o destino mais próximo desta ”autoestrada marítima” com a Madeira, sendo o Porto de Portimão, enquanto “Porta Marítima do Algarve”, a solução natural para receber esta ligação.
Por um lado, a sua localização. Trata-se do porto mais próximo no continente, a apenas 495 milhas náuticas de distância, e que pela sua localização a sul, permite que o navio navegue por uma rota meteorológica que apresenta condições de agitação marítima mais favoráveis, aumentando consideravelmente o conforto e segurança proporcionados aos passageiros.
Favorecida pela sua localização, a barra de Portimão é uma das mais seguras do país e uma das que menos dias por ano encerra à navegação, o que permitirá manter a regularidade da operação e evitar um maior número de cancelamentos.
Por outro lado, a infraestrutura portuária e a sua equipa. O Porto de Portimão dispõe de um cais ro-pax específico para esta tipologia de navios, com uma ampla zona confinante para o parqueamento e circulação de veículos ligeiros e de mercadorias.
Dado se tratar de um cais dedicado à operação ferry (ro-pax), não conflitua com a operação de navios de cruzeiros.
Mas é na equipa do porto que reside o seu maior ponto forte, uma equipa que reúne uma grande experiência, graças aos três anos e meio da anterior ligação, e que consegue dar resposta às exigências que uma operação de grande complexidade como esta impõe.
O Armador que ganhar a concessão e assegurar o serviço público de transporte marítimo regular de passageiros e veículos através de navio ferry entre a Madeira e o Continente Português terá no Porto de Portimão um parceiro experiente e motivado, que dará um forte contributo à redução de custos e de tempos de operação e cuja localização permitirá manter a regularidade da ligação e reduzir significativamente os riscos de cancelamentos.""
Autor: Luís Monteiro é mestre em Gestão e Desenvolvimento de Destinos Turísticos pela Universidade do Algarve.
Responsável pela promoção do Porto de Cruzeiros de Portimão, entre 2005 e 2013.
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